segunda-feira, 5 de abril de 2010

Coven - Visão de Starhawk

O coven é um grupo de apoio da bruxa, um grupo que desperta a consciência, um centro de estudos psíquicos, um programa de treinamento de sacerdotes, escola de mistérios, o  substituto de um clã e uma congregação religiosa, todos em uma só instância. Num coven forte, o liame é, por tradição, “mais forte que o de família”: a partilha  espiritual, emocional e imaginativa. “Perfeito amor e perfeita confiança” são as metas.
A estrutura de um coven torna a  organização da Feitiçaria muito diferente da maioria das outras religiões. A Arte não está alicerçada sobre grandes e heterogêneas massas que se conhecem somente superficialmente:
nem tampouco baseia-se em gurus individuais com seus devotos e discípulos.
Não existe uma autoridade hierárquica, nenhum Dalai Lama, nenhum papa. A estrutura da bruxaria é celular, baseada em pequenos círculos cujos membros compartilham profunda, mútua confiança entre si e a Arte.
A Feitiçaria tem a tendência a atrair pessoas que, por sua natureza, não gostam de se unir a grupos. A estrutura do coven torna possível que individualistas fanáticos experimentem profunda sensação de comunidade sem que percam a sua independência de espírito. O segredo é o seu tamanho
reduzido. Um coven, tradicionalmente, nunca abriga mais do que treze membros. Em um grupo tão pequeno, a presença ou ausência de uma pessoa afeta o restante. O grupo torna-se vário pelas predileções, aversões, crenças e gostos de cada individuo.
Ao mesmo tempo, o coven torna-se uma entidade em si mesma, com personalidade própria. Ela gera uma forma raith1, uma espiral de energia que existe acima e além de seus membros. Há uma qualidade sinérgica que envolve um coven forte. É mais do que a soma das partes; é um poço de energia onde seus membros podem saciar sua sede.
Para tornar-se membro de um coven, o bruxo deve ser iniciado, deve submeter-se a um ritual de comprometimento, no qual os ensinamentos e segredos internos do grupo são revelados. A iniciação é seguida de um longo período de treinamento, durante o qual a confiança e a segurança do grupo são
paulatinamente construídas. Quando sua duração é adequada, o ritual torna-se também um rito de passagem que marca um novo estágio de crescimento pessoal. A Feitiçaria desenvolve-se lentamente; jamais poderá ser uma religião de massas, propagada pelas esquinas ou  entre os vôos no aeroporto.
Feiticeiras não fazem proselitismo.  Espera-se que possíveis membros busquem os covens e demonstrem profundo nível de interesse. A força da Arte é sentida na qualidade e não na quantidade.
Originalmente, os líderes de covens eram professores e sacerdotisas/sacerdotes de uma grande população pagã e não iniciados. Eles constituíam os conselhos de dignitários dentro de cada clã, as mulheres e homens cuja sabedoria fê-los ir além da superfície dos ritos e buscar significados mais profundos. Nos grandes  festivais solares, os sabás, eles conduziam os rituais, organizavam as reuniões e explicavam os significados  das cerimônias. Cada coven possuía seu território próprio que, por tradição, estendia-se por uma légua. Covens vizinhos podiam juntar-se por ocasião dos grandes sabás, a fim de dividirem conhecimentos, ervas, feitiços e, é claro, tagarelar. Grupos de covens juntavam-se, às vezes, sob o comando de uma feiticeira “rainha” ou grã-mestra. Em luas cheias, covens encontravam-se sozinhos para os Esbats, quando estudavam os ensinamentos internos e praticavam magia.
Durante a época das fogueiras, os grandes festivais foram banidos ou cristianizados. A perseguição era mais intensamente direcionada contra membros de covens, encarados como os verdadeiros perpetuadores da
religião. O sigilo mais absoluto tornou-se necessário. Qualquer membro de um coven poderia trair os demais e leva-los à tortura e à morte, portanto, “perfeito amor e perfeita confiança” eram mais que palavras vazias. Os covens foram isolados uns dos outros, as tradições fragmentaram-se, os ensinamentos foram esquecidos.
Presentemente, há um crescente esforço em toda a Arte para restabelecer a comunicação entre os covens e dividir conhecimentos. Mas, muitos bruxos ainda não podem se dar ao luxo de “saírem do armário”. O
reconhecimento público pode significar a perda de seus empregos e meios de ganhar a vida. Feiticeiros conhecidos são alvos fáceis para malucos violentos: um casal do sul da Califórnia teve a sua casa bombardeada após ter participado de um programa de entrevistas na televisão. Outros são molestados pelas autoridades por causa de práticas tradicionais como a predição ou tornam-se bodes expiatórios de crimes locais. O preconceito, infelizmente, é comum. Pessoas sensatas jamais identificam alguém como um feiticeiro/feiticeira sem, de antemão, pedirem permissão de maneira reservada.
Neste livro, meus amigos e membros de covens foram genericamente tratados por seus nomes utilizados nos covens,  a fim de preservar a privacidade dos mesmos.
Todo coven é autônomo. Cada um possui autoridade própria em assuntos relativos a rituais, thealogia e treinamento. Grupos de covens, que seguem os mesmos ritos, podem se considerar parte da mesma tradição. Para garantir proteção legal a seus membros, muitos covens associam-se e se incorporam como igreja, mas os direitos de covens autônomos são sempre zelosamente resguardados.
Covens geralmente desenvolvem enfoque e orientação específicos. Existem covens que se concentram na cura e nos ensinamentos; outros podem ter inclinações para o trabalho psíquico, estados de transe, ação social ou criatividade e inspiração. Alguns parecem dedicar-se, simplesmente, a darem boas festas; afinal, “todos os atos de amor e prazer” são rituais da deusa. Os covens podem ser compostos de homens e mulheres ou se limitarem, somente, às mulheres. (Existem poucas assembléias só de homens, por motivos que serão discutidos no capitulo 6.)
Um coven é um grupo de pessoas consideradas como iguais, mas não é um “grupo acéfalo”. A autoridade e o poder, no entanto, estão baseados em princípios muito diferente daqueles predominantes no mundo em geral. O poder, em um coven, nunca é o poder sobre o outro. É o poder que vem de dentro.
Em Feitiçaria, poder é outra palavra para energia, a corrente de forças que molda a realidade. Uma pessoa poderosa é aquela que atrai energia para o grupo. A capacidade para canalizar poder depende da integridade, coragem e individualidade pessoais. Ele não pode ser presumido, herdado, nomeado ou tido como certo. O poder interior advém da capacidade de autocontrole, de encarar medos e limitações, de manter compromissos e de ser honesto. As fontes de poder interior são ilimitadas. O poder de uma pessoa não diminui o poder de outra; pelo contrário, à medida que um membro do coven entra em contato com seu próprio poder, o poder do grupo torna-se mais forte.
Em termos ideais, um coven serve como campo de treinamento onde cada membro desenvolve o seu poder pessoal. O apoio e a segurança do grupo reforçam a confiança de cada membro em si mesmo. O treinamento psíquico desperta novas percepções e capacidades, e a realimentação do grupo torna-se o espelho sempiterno no qual nos “vemos como os outros nos vêem”. O objetivo de um coven não é o de abolir os líderes, mas treinar cada bruxo para ser um líder, uma sacerdotisa ou um sacerdote.
A questão da liderança tem incomodado o movimento feminista e a nova esquerda. O cenário político está, infelizmente, carente de modelos de poder interior. O poder sobre os outros é corretamente percebido como
sendo opressivo, mas, com muita freqüência, o “ideal coletivo” é utilizado de maneira errônea, para destruir os fortes em lugar de inserir força nos fracos.
Mulheres poderosas são combatidas ao invés de serem apoiadas: “Serei uma traidora? Eles deviam me matar. Tornaram-me uma líder. Não devíamos ter líderes. Serei julgada por algum papel oculto, minha reputação assassinada secretamente.”
O conceito de poder interior estimula o orgulho saudável, não o anonimato recatado; a alegria em relação à nossa força, não vergonha e culpa.
Em bruxaria, autoridade significa responsabilidade. O líder do coven deve possuir sensibilidade e poder interior para canalizar a energia do grupo, para dar início e interromper cada fase do ritual, ajustando a duração de acordo com o ânimo do círculo. Um ritual, assim como uma produção teatral, precisa de um
diretor.
Na prática, a liderança é passada de um líder para outro em um grupo totalmente amadurecido. O bastão representando a autoridade do líder pode ser passado para cada membro da assembléia. Diferentes partes do ritual podem ser conduzidas por diferentes pessoas. 
Tanto Compost quanto o coven de mulheres, conhecido como Honeysuckle, são covens de dignatários. Cada iniciado é capaz de conduzir rituais, direcionando a energia e treinando os novatos. O processo de
desenvolvimento em cada grupo, todavia, era muito diferente. Compost era típico, tal como vários covens novos e auto-iniciatórios que estão surgindo hoje, sem a vantagem do treinamento formal da Arte. Eu havia
sido ensinada por bruxas, há muitos anos, quando estudava na universidade, mas nunca realmente havia me iniciado. Grande parte do meu conhecimento é produto de figuras de sonhos e experiências de transe. Fui incapaz de encontrar um coven que sentisse ser compatível comigo e, durante muitos anos, trabalhei sozinha. Finalmente, decidi tentar iniciar meu próprio coven, independentemente de estar “autorizada” a faze-lo. Comecei dando aulas de Feitiçaria no Centro de Educação Alternativa de Bay Área.
Em poucas semanas, um grupo de indivíduos interessados começou a encontrar-se semanalmente. Nossos rituais eram coletivos e espontâneos, como os descritos no livro. Éramos resistentes quanto a formas e palavras determinadas. Decorridos alguns meses, um grupo dotado de núcleo forte havia se desenvolvido e, então, realizamos uma iniciação formal. Nossos rituais haviam adquirido um padrão regular e decidimos fixar a base dos ritos, a fim de que tivéssemos uma estrutura coletiva, na qual todos pudéssemos ser espontâneos
e abertos. Anteriormente, o líder – geralmente eu – decidia o que iria acontecer a qualquer momento e todos seguiam a sua determinação.
Conhecemos muitas feiticeiras de outros covens e iniciei meus estudos com uma professora da tradição das fadas. Comecei a ter contato com meu próprio poder. Como grupo, também percebíamos que as energias que estávamos suscitando eram reais, não meramente simbólicas. O grupo sentiu necessidade de um líder reconhecido; ao mesmo tempo, senti a necessidade de ter o meu recém-descoberto poder reconhecido. O coven confirmou-me como sacerdotisa.
Como a maioria das pessoas, cuja sensação de poder interior está se desenvolvendo rapidamente, eu, ocasionalmente, agia de maneira extremada. De não-lider coletivista tornava-me, às vezes, sacerdotisa um tanto desajeitada. Existem dias em que os registros de rituais são bem diferentes dos que foram apresentados neste capítulo: “Organizei o círculo... Invoquei a Deusa... conduzi o cântico... direcionei o cone de poder...”. Felizmente, os membros do meu coven eram tolerantes o suficiente, permitindo que eu cometesse erros, e honestos o bastante para dizer que não gostavam do que eu estava fazendo. Começamos a dividir responsabilidades: um membro trazia sal e água e purificava o círculo, outro trazia incenso e carregava o espaço de energia. Os homens invocavam o Deus Galhudo e dividíamos as tarefas de invocar a Deusa e direcionar o cone de poder. Tornei-me mais relaxada no papel de líder.
Encontrar um coven para dele fazer parte pode ser difícil. Feiticeiras não são encontradas no catálogo telefônico e, raramente, fazem uso de anúncios classificados. Com freqüência, no entanto, ministram aulas em universidades abertas ou em livrarias metafísicas. Algumas universidades estão começando a oferecer cursos de bruxaria em seus departamentos de estudos religiosos.
Lojas de ocultismo algumas vezes fornecem indicações. O melhor caminho, é claro, é através de contatos pessoais. Bruxos sentem que, quando uma pessoa está interiormente preparada para fazer parte da Arte, ela será conduzida às pessoas certas.
Várias pessoas afirmam, infelizmente, serem bruxas e não passam de tipos repugnantes. Quando você encontrar-se com alguém que se intitula feiticeira, preste muita atenção aos seus sentimentos íntimos e percepções. Os rituais de vários covens são secretos, mas você deve ser esclarecido e ver o suficiente para que possa formar um quadro razoavelmente claro sobre eles.
Um verdadeiro coven jamais lhe pedirá  que faça algo que você acredite ser errado. Qualquer forma de força, coerção ou pressão como tática de abordagem é contrária ao espírito da Feitiçaria. Bruxas de verdade permitirão que você tome a iniciativa de encontra-las.
A bruxaria não trabalha  por dinheiro. Não há taxas para iniciação e é considerada transgressão ética cobrar dinheiro para treinamento em covens.
Obviamente, é permitido aos bruxos que são professores, ou que trabalham como conselheiros psíquicos, cobrar honorário justo, por seu tempo e trabalho.
No entanto, não lhe venderão velas “abençoadas” por elevadas quantias de dinheiro ou pedirão que lhes entregue as suas economias a fim de retirar uma praga: estes são os truques favoritos de trapaceiros que fazem vitimas entre o público ingênuo. Um coven pode cobrar taxas para cobrir gastos com velas, incenso e outras despesas, mas a sacerdotisa não estará dirigindo um Mercedes adquirido por meio das contribuições de seus fiéis seguidores.
Em um coven forte, membros sentem-se próximos a outros e, em momentos de dificuldade,  naturalmente procuram ajuda entre si. Em geral encontram-se socialmente, fora das reuniões do grupo, e desfrutam-se
mutuamente a companhia. Mas também têm amigos diferentes e interesses vários, fora do grupo, e não passam todo o tempo juntos. Um coven não deve ser um refúgio do mundo, mas uma estrutura de apoio que ajuda cada membro a funcionar melhor e mais plenamente no mundo.
Atualmente, há muito mais pessoas querendo aderir a covens do que grupos capazes de acolher os recém-chegados. Se você não consegue encontrar um coven adequado, pode praticar a Arte sozinho ou dar inicio ao seu próprio coven.
Trabalhar sozinho não é o ideal. Despertar a visão de luz da estrelas é muito mais difícil sem o apoio de um grupo. Aqueles que viajam pelos caminhos inexplorados da mente correm maior risco de ficarem presos à
subjetividade. Além disso, trabalhar com outras pessoas é muito mais divertido.
Mas, como afirma uma bruxa que praticou a Arte sozinha por muitos anos:”Trabalhar sozinho tem seus pontos positivos, assim como negativos. Seu treinamento é um tanto errático, mas de qualquer maneira, é assim também em várias assembléias. A vantagem está em que se aprende a depender de si mesmo e se conhece as suas limitações. Quando se entra para um coven, já se sabe o que se quer e o que é melhor para você.”
A meditação solitária e a prática da visualização fazem parte do treinamento de todas as bruxas. A maioria dos exercícios deste livro podem ser feitos sozinhos e até os rituais podem ser adaptados. O culto solitário é muito mais preferível do que associar-se ao grupo errado.
Não é necessário que você seja um feiticeiro hereditário ou iniciado para dar início ao seu próprio coven. O treinamento, naturalmente, ajuda. Mas a escola da tentativa e erro é também muito boa.
Quando um grupo de pessoas interessadas, mas sem experiência, se forma, a primeira tarefa é estabelecer uma sensação de segurança. A receptividade e a confiança desenvolvem-se paulatinamente, através do
compartilhar emoções de maneira verbal e não-verbal. As pessoas precisam de tempo para conversar, bem como para trabalhar a magia. Freqüentemente, começo grupos com jantares simples, a fim de que as pessoas possam dividir uma forma muito palpável de energia: a comida. Técnicas de despertar a consciência também podem ser muito eficazes. Podemos deixar a palavra livre e permitir que cada pessoa diga por que buscou o grupo e o que dele espera.
Todos podem falar durante limitado período de tempo, sem serem interrompidos, a fim de que os indivíduos mais tímidos sintam-se estimulados a falar e os mais loquazes não dominem a conversa. Perguntas e comentários são feitos depois que cada um tenha falado.
O compartilhar não-verbal de sentimentos também é importante para criar confiança no grupo. Ao orientar um grupo, as palavras em si são menos importantes do que o ritmo da voz e a duração das pausas.
Dividir poemas, canções, histórias, quadros e trabalho criativo no círculo também ajuda a construir uma sensação de proximidade. Em Honeysuckle, quando recebemos membros de um grupo  novo, dedicamos uma noite para partilharmos nossas histórias de vida no círculo. Também corremos juntos regularmente e já viajamos em grupo. Ocasionalmente, Compost faz “excursões”, por exemplo, ao desfile do festival chinês da lua. Dedicamos uma reunião para assistirmos O Mágico  de Oz na televisão e para sairmos saltitando pela rua cantando “Follow the Yellow Brick Road.”
À medida que o grupo torna-se  mais unido, alguns conflitos interpessoais, inevitavelmente, surgem. A própria coesão do grupo, em si, fará com que alguns membros sintam-se deixados de fora. Cada pessoa é parte do
todo, mas, também, um  indivíduo parcialmente separado do resto. Algumas pessoas tendem  a perceber o grupo como uma entidade sólida que acolhe a todos, enquanto somente elas são, em parte, esquecidas. A atração sexual ocorre, freqüentemente, entre membros do coven e, enquanto o primeiro momento de felicidade no amor trará poder para o grupo, a discórdia entre um casal provocará desintegração. Se os dois rompem e sentem que não são mais capazes de trabalhar no mesmo grupo,  juntos, um verdadeiro problema se instala. A líder de um coven que seja forte e carismática, com freqüência, torna-se o alvo das projeções de outros membros. Ela poderá ser vista como a mãe-terra que tudo dá, a eternamente desejável mas inatingível mulher ou a profetisa que tudo sabe. É sempre uma tentação para ela acreditar nessas lisonjeiras imagens e alimentar-se psiquicamente da força energética nelas contidas, mas, se assim o fizer, interromperá seu próprio crescimento como verdadeiro ser humano. Mais cedo ou  mais tarde, ela se atrapalhará e a imagem será destruída; os resultados poderão ser explosivos.
Uma certa quantidade de tempo e energia do grupo reservados para a resolução de conflitos interpessoais é  necessária e desejável, como parte do processo de crescimento que ocorre em um coven saudável. Mas, é muito fácil para um grupo degenerar numa espécie de sessão de encontro amador ou de gritos. Uma assembléia não pode funcionar como grupo terapêutico. Problemas entre membros podem, às vezes, ser resolvidos com maior eficácia pela magia do que por discussões intermináveis. Por exemplo, em lugar de tranqüilizar um membro inseguro do coven coloque-o no centro do círculo e cante seu nome.
Se dois membros não conseguem trabalhar juntos, mas nenhum quer deixar o grupo, o restante dos membros talvez  tenha que se fiar em tirar a sorte, passando a decisão para a Deusa. E, se uma sacerdotisa parece correr o risco de ser seduzida por sua própria campanha de relações públicas, os membros menos desavisados do grupo devem delicadamente adverti-la. A crítica objetiva e construtiva é um dos grandes benefícios da estrutura de um coven.
Um coven passa a ser um espaço seguro no qual os membros sentem-se livres para liberar as suas inibições: rir, dançar, ser tolo, sair cantando, declamar uma poesia espontânea, fazer trocadilhos sem graça e permitir que o self mais jovem desperte e saia para brincar. Somente, então, é que estados mais elevados de consciência podem ser  alcançados. Muitas técnicas foram desenvolvidas para eliminar o “censor” do self discursivo e para deixar que a voz interior se expresse livremente.
A nudez é uma dessas técnicas. Quando tiramos nossas roupas, despimo-nos de nossas máscaras sociais, de nossas auto-imagens bem-cuidadas. Tornamo-nos abertos. O significado místico do corpo humano nu é a
“verdade”. Diferentes pessoas necessitam de diferentes níveis de espaço íntimo; enquanto algumas brincam alegremente em praias de nudismo, outras não se sentem confortáveis nuas até que a confiança seja trabalhada durante um longo período de  tempo. Em nossos covens, rituais públicos são sempre realizados com todas as pessoas vestidas. Se pessoas convidadas para cerimônias reservadas, onde todos ficarão nus, sentirem-se desconfortáveis se despindo, estão livre para  usarem o que melhor lhes satisfizer. Não se pode
forçar a vulnerabilidade em qualquer pessoa, exceto destrutivamente. 
O treinamento mágico varia muito de um coven para outro, mas seu objetivo é sempre o mesmo: revelar a consciência da luz das estrelas, a outra maneira de saber que pertence ao hemisfério direito e permite que entremos em contato com o Divino que existe dentro de nós. O iniciante deve desenvolver quatro habilidades básicas: relaxamento, concentração, visualização e projeção.
Os covens possuem muitas maneiras diferentes de admitir novos membros. Alguns oferecem aulas ou grupos de estudos abertos. Nós preferimos que iniciados se encarreguem de aprendizes individualmente. Cada
novato recebe instruções individualizadas, sob medida para as suas necessidades particulares. E cada membro do coven tem a chance de ser uma autoridade e é forçado a conceituar seu próprio conhecimento a respeito da Arte a fim de poder ensina-la. Aprendizes e seus professores desenvolvem fortes laços, de tal maneira que cada novato sente que tem relacionamento especial com um membro do grupo. Os aprendizes também desenvolvem laços entre si como grupo. Eles assistem aos rituais juntos, para que ninguém tenha que ser “ a única pessoa nova no pedaço”.
Quando treino um aprendiz, penso que sou algo como uma professora de dança. Sugiro normas regulares, inclusive vários dos exercícios apresentados neste capitulo, o “trabalho de barra básico” da magia.
Adicionalmente, tento identificar áreas de fraquezas e desequilíbrio e prescrevo exercícios corretivos. Por exemplo, para um estudante cuja mente continuamente perambula, sugiro exercícios de concentração. Durante os rituais, aprendizes têm  a chance de combinar habilidades aprendidas através da prática solitária em uma complexa dança de poder com o coven e entre si.
Como procedimento básico e diário,  recomendo três coisas. Primeiro, exercício físico regular. A importância desse item não pode ser menosprezada.
Infelizmente, é das coisas mais difíceis conseguir que as pessoas o façam. A Arte tem a tendência a atrair tipos mentais e espirituais, ao invés de atletas vigorosos. Mas, o trabalho psíquico e mágico exige uma vitalidade tremenda – literalmente, a energia do raith,do self mais jovem. Essa vitalidade é reabastecida e renovada através da atividade física, um pouco como o movimento das rodas de um automóvel que ativa o dínamo, que recarrega as baterias. Trabalho mental e espiritual excessivos, que não for equilibrado com
exercícios físicos, esgota nossas baterias etéreas. Às vezes, ioga é adequada, mas geralmente é ensinada como uma disciplina espiritual que abre os centros psíquicos, em vez de aumentar a vitalidade física. Para os nossos objetivos, correr, nadar, andar de bicicleta, jogar  tênis ou andar de patins é melhor, algo ativo e agradável e que nos põe em  contato com a natureza. Bruxos fisicamente incapacitados podem encontrar um regime apropriado para as suas necessidades e capacidades. Se se pode passar algum tempo, todos os dias,
ao ar livre, num gramado ou sob uma arvore, onde se possa embeber-se das energias elementares, colher-se-á muitos dos mesmos benefícios que os corredores de maratonas.
A segunda coisa que recomendo aos estudantes são os exercícios de relaxamento diários e o exercício diário de meditação, visualização ou concentração. Estes, mudam, freqüentemente, à medida que o estudante evolui. Algumas pessoas praticam vários ao mesmo tempo, mas um já é o suficiente. Ficamos sobrecarregados quando há excesso. Certa vez, durante meu próprio treinamento, acordei pela manhã e fiz um exercício de transe sentada diante da máquina de escrever por uma hora, depois vinte minutos de ioga, incluindo as meditações dos quatro elementos e a Visualização do Círculo do capitulo 4. Mais tarde, neste mesmo dia, pratiquei o relaxamento profundo e um transe deitada. À noite, realizei a contemplação de velas, uma purificação pela água e uma variedade de feitiços  pessoais. Infelizmente, dispunha de muito pouco tempo para viver de verdade. Após algumas semanas, decidi que a moderação era a essência da sabedoria, na magia, assim como em outras coisas.
A terceira prática que sugiro é a  manutenção de um diário mágico, chamado Livro das Sombras. Tradicionalmente, era um “livro de receitas” de rituais, feitiços, cânticos e encantamentos que cada bruxa copiava a mão sob a orientação de seu professor. Atualmente, apesar de enrubescer ao admiti-lo, tal
informação é geralmente xerocada para a distribuição pelo coven. O Livro das Sombras é mais do que um diário pessoal. Ele pode incluir descrições de rituais, registros de sonhos, reações a exercícios, poemas, histórias e viagens em transe. Bruxos solitários podem fazer uso de seu livro das sombras para desenvolverem um pouco de objetividade que, normalmente, advém do trabalho em um coven. Tristine Rainer, em The New Diary, descreve até mesmo técnicas de utilização de anotações em diários para a recordação de vidas passadas.
Útero, grupo de apoio, escola de treinamento mágico e comunidade de amigos – o coven é o coração da Arte. Dentro do círculo, cada feiticeira é treinada para desenvolver seu poder interior, sua integridade mental, corporal e espiritual. Como em uma família, as assembléias, às vezes, têm suas querelas.
Mas, quando o círculo está organizado, quando o cone é elevado e, juntas, as pessoas invocam os deuses, reconhecem em cada uma a deusa, o deus, o espírito da vida em todos. E, deste modo, quando cada iniciado é desafiado a entrar no círculo, ele diz a única senha: “perfeito amor e perfeita confiança”.
Essa é visão retirada do livro A Dança Cósmica das Feiticeiras, um dos melhores livros sobre a Bruxaria, presente na cabeceira de qualquer Sacerdote sério.
Concordo 101% com Tia Starhawk... Ela é simplesmente fantástica!!!

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