domingo, 30 de setembro de 2012

Considerações de um Neófito


*O texto à seguir foi escrito por Kalanne Silva, neófito do Coven a partir de algumas anotações feitas desde o nosso 1º encontro, no ESP (Encontro Social Pagão) que o Coven organiza aqui em Santos, SP.

"De um neófito para outro neófito,

            O dia havia iniciado com a nossa mãe terra chorando alimentando o solo que pisamos, eu levantei com pouco ânimo para o que pra mim seria uma “pequena aventura”. Eu tinha convencido um amigo a me acompanhar ao que então seria meu primeiro encontro com aqueles que se denominavam pagãos. Era 22 de janeiro de 2012, e eu cheguei ao lugar pré-estabelecido, duas cidades após a minha, aproximadamente à 1 hora 30 minuto, com direito a dois ônibus e uma barca. Eles haviam marcado a reunião num emissário submarino e eu não tinha a mínima idéia de onde era muito menos O QUE ERA UM EMISSÁRIO SUBMARINO e como todo virginiano com ascendente em gêmeos, tive que procurar, e a resposta que o pai dos burros moderno, o Google, me deu não me surgiu como um bom augúrio.

“Emissário submarino (marine outfall em inglês) é uma tubulação utilizada para lançamento de esgotos sanitários ou industriais no mar, aproveitando-se a elevada capacidade de autodepuração das águas marinhas que promovem a diluição, a dispersão e o decaimento de cargas poluentes a elas lançadas.”
(Wikipedia – Emissário Submarino)

            Para minha surpresa o lugar não chamava atenção por grandes tubulações onde (bem acho que vocês entenderam o que teria ali) era lançado ao mar, mas como uma grande praça, com esculturas, parquinho de diversão para crianças e até um museu do surf, ou seja, um lugar que as famílias da região vão passar os domingos o que me tranqüilizou um pouco. (até hoje eu me pergunto onde está a tubulação que não vejo nem vestígio dela)           
Eu havia chego lá após ter enviado um e-mail para um coven na cidade ao lado perguntando informações e tendo sido convidado para o evento. Então a pergunta que não queria calar (já que a do que diabos era um emissário submarino já tinha sido parcialmente sanada) era “que figuras me aparecerão por aqui?”
            Não vou negar que cheguei lá procurando pelo grupo mais hippie possível, e a princípio não me surpreendi quando não encontrei ninguém, já que eu estava 30 minutos adiantado. Foi quando deu exatamente 17h30min, que comecei a pensar que eu tinha passado por algum tipo de peça, porque era o horário da reunião e não havia ninguém aparentemente pagão (sim, para mim o ser pagão seria algo tão evidente em comportamento, excentricidade que estaria estampado na cara do grupo), mas essa preocupação foi momentaneamente sanada quando um menino, de aparentemente uns 14 pra 15 anos sentou num banco próximo de onde estávamos, todo vestido de preto, com um pentagrama do tamanho de seu rosto no pescoço (ok, estou exagerando, mas ele era grande mesmo), que me deixou mais uma vez preocupado “será algum grupo de roqueiros malucos que me meti? Justo eu?”. Resolvi pensar pelo lado bom, pelo menos eu havia me vestido de jeans e cinza, bem básico, e não me destacaria em meio a escuridão, mas confesso que considerei fingir que nunca havia passado por lá se gente de preto e piercing começasse a chegar.
            Depois de uns 10 minutos observando o menino (virginiano? Imagina!) percebi que era inofensivo e perguntei se estava lá para o ESP, recebi um aceno de cabeça, pensei “ok, bom sinal”, e logo outras pessoas começaram a chegar e para minha surpresa e alegria: ELES ERAM NORMAIS (pelo menos normal aparentemente porque hoje já não penso mais assim).
            Fui introduzido à sacerdotisa e ao sacerdote do coven e aos poucos à outros iniciados na arte também, o tema, tão PROPÍCIO (inspiração divina), era justamente sobre a Bruxaria solitária e a tradição, que era o que eu precisava ouvir no momento, já que era muito medroso para praticar solitariamente e estava justamente procurando alguém para me guiar. Confesso que sai com muito mais dúvidas do que quando cheguei, mas não por que não haviam discutido bem o assunto, mas porque aquele mundo estava me sendo introduzido, estava se abrindo em minha mente.
            Não sei o que tinha sido pior, a angústia de ter ficado interessado no assunto (fui introduzido à Wicca através de um livro que ganhei de uma amiga wiccana nos Estados Unidos, durante o tempo que morei lá) e não ter alguém para ensinar e guiar ou após ter encontrado um pseudo-guia (até então) ter de esperar mais de um mês para o novo encontro que ao fim, creio que após mostrar meu grande interesse por tudo aquilo, fui convidado, assim como alguns outros, a fazer parte do círculo de neófitos que estava sendo formado.
Embora tenha me sido explicado que fazer parte do círculo era o passar por alguns treinamentos para uma possível iniciação, a palavra neófito, que para mim era nova, não saía da minha cabeça e a primeira coisa que fiz quando cheguei em casa naquela noite foi perguntar ao Google: O que é neófito?
            Sabiamente essa foi a resposta que obtive:

“Neófito é referente a algo novo, recém-admitido ou incorporado. s.m. Novo adepto de uma doutrina, de um partido. Na primitiva Igreja, pagão novo converso; prosélito novo. P. ext. Principiante, novato. Neófito vem do latim novus, nova, novum. Pode se referir ao grau inicial de alguma organização”
(Wikipédia – Neófito)

            E esse conhecimento é o para mim o início de tudo, ser neófito é justamente o ser novo em algo, um pré-iniciado, pode ser considerado um “por enquanto nada”, um “quase lá”, ou então pode significar tudo, pois é uma posição eterna em minha limitada visão, pois não importa quando tempo passe ou quantos graus se adquira, estaremos sempre sendo iniciados numa nova arte, num novo mundo, num novo assunto, seremos sempre novatos, neófitos, em uma arte ou ofício e essa consciência creio ser o primeiro passo para um desenvolvimento sadio.
            Magia, bruxaria, astrologia, herbologia, numerologia, tarologia, taromancia, roda do ano, feriados, divindades, mitos, incensos, cristais, meditações e etc. São tanto assuntos para a mente de um neófito absorver que a princípio me senti tonto e perdido, foi quando disse pra mim mesmo: “SLOW DOWN! Desacelera! Você NUNCA, digo NUNCA, repito NUNCA, vai conseguir processar tudo de uma vez, vamos aos poucos, você tem uma vida inteira pela frente, seu “eu mágico” acabou de nascer.” E essa foi minha segunda grande descoberta, não adiantava eu ler de tudo (já que o fazer, eu não faria mesmo sem direção de alguém experiente) se não fosse algo completo, e estabeleci algumas metas, onde a mais importante delas era dar atenção PRIMORDIAL aos treinamentos dados principalmente pelo meu sacerdote que foi com quem tive maior contato a princípio, pois se ele havia me passado aquela prática/ensinamento era aquilo que precisava no momento, ou seja, ser neófito é também confiar no que os sacerdotes dizem, são como pais que sabem ou ao menos tentam mostrar o caminho mais fácil e sem grandes escorregões, e agradeço aos deuses por terem me colocado sobre as asas do que tenho, pois fazem esse ofício com amor e sabedoria, à quem tenho total confiança e sei que essa realidade não é algo fácil de se encontrar.
            Em resumo, o saber quem são os sacerdotes à ponto de confiar sua energia e vida mágica para num futuro fazer parte de uma mesma teia energética é também essencial, pois embora na teoria o “eu” mágico e o “eu” real sejam duas coisas distintas sua essência e integridade são ou ao menos deveriam ser a mesma.
            Nesse período de neófito que me encontro tenho tido descobertas periódicas acerca do mundo, da vida e até de mim mesmo, e espero que os deuses me permitam continuar com tais mesmo quando (e se) for contemplado com uma dedicação e após uma iniciação de primeiro, segundo, terceiro ou vigésimo grau. Tem sido o momento ideal para conhecer o que é este mundo da magia, o que é este mundo pagão, o exemplo que meu sacerdote pode ser, o amor que minha sacerdotisa pode me oferecer e até o carinho e sinceridade pelos iniciados do grupo, é como “saber onde se está pisando ou se metendo”, é ter certeza do que desejo e do que faço, pois toda ação nesse mundo há uma reação, quer você acredite numa lei tríplice ou não e hoje ao meu hino pessoal, Affirmation – Savage Garden, eu acrescentaria apenas que I believe that neophyte should be our continuous level (Eu acredito que neófito deveria ser nosso estágio contínuo), pois é nele que a magia acontece, pois o fim sem o começo nada significa, isso é se existe um fim."

**Estou imensamente feliz e fiquei emocionada com as palavras de Kalanne, e o que mais uma Sacerdotisa pode dizer?
Abaixo segue a musica citada por ele no texto.
Boa reflexão à todos.

Affirmation Savage Garden

I believe the sun should never set upon an argument
I believe we place our happiness in other people's hands
I believe that junk food tastes so good because it's bad for you
I believe your parents did the best job they knew how to do
I believe that beauty magazines promote low self esteem
I believe I'm loved when I'm completely by myself alone

I believe in Karma what you give is what you get returned
I believe you can't appreciate real love until you've been burned
I believe the grass is no more greener on the other side
I believe you don't know what you've got until you say goodbye

I believe you can't control or choose your sexuality
I believe that trust is more important than monogamy
I believe your most attractive features are your heart and soul
I believe that family is worth more than money or gold
I believe the struggle for financial freedom is unfair
I believe the only ones who disagree are millionaires

I believe in Karma what you give is what you get returned
I believe you can't appreciate real love until you've been burned
I believe the grass is no more greener on the other side
I believe you don't know what you've got until you say goodbye

I believe forgiveness is the key to your own happiness
I believe that wedded bliss negates the need to be undressed
I believe that God does not endorse TV evangelists
I believe in love surviving death into eternity

I believe in Karma what you give is what you get returned
I believe you can't appreciate real love until you've been burned
I believe the grass is no more greener on the other side
I believe you don't know what you've got until you say goodbye 

Tradução: 
Acredito que o sol nunca deve definir sobre um argumento
Eu acredito que nós colocamos a nossa felicidade nas mãos de outras pessoas 
Eu acredito que junk food tem um gosto tão bom porque é ruim para você 
Eu acredito que seus pais fizeram o melhor que sabia fazer
Eu acredito que a beleza revistas promover a auto-estima baixa 
Eu acredito que eu sou amado quando estou completamente por mim

Eu acredito em karma o que você dá é o que você recebe
Eu acredito que você não pode apreciar o verdadeiro amor até que você tenha sido queimado por ele 
Eu acredito que a grama não é mais verde do outro lado
Eu acredito que você não sabe o que você tem até você dizer adeus
 
Eu acredito que você não pode controlar ou escolher sua sexualidade 
Eu acredito que a confiança é mais importante do que a monogamia 
Eu acredito em suas características mais atraentes são o seu coração e alma 
Eu acredito que a família vale mais do que dinheiro ou ouro 
Eu acredito que a luta pela liberdade financeira é injusta
Eu acredito que os únicos que discordam são milionários

Eu acredito em karma o que você dá é o que você recebe
Eu acredito que você não pode apreciar o verdadeiro amor até que você tenha sido queimado por ele 
Eu acredito que a grama não é mais verde do outro lado
Eu acredito que você não sabe o que você tem até você dizer adeus

Eu acredito o perdão é a chave para a sua própria felicidade 
Eu acredito que felicidade conjugal nega a necessidade de ser despido 
Eu acredito que Deus não endossa evangelistas de TV
Eu acredito no amor sobreviver à morte para a eternidade
 
Eu acredito em karma o que você dá é o que você recebe
Eu acredito que você não pode apreciar o verdadeiro amor até que você tenha sido queimado por ele 
Eu acredito que a grama não é mais verde do outro lado
Eu acredito que você não sabe o que você tem até você dizer adeus.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Circulo de Neófitos - Sua Função.

No começo deste ano, tomamos uma decisão aconselhados pelo o Oráculo à fecharmos o Coven, fecharmos as celebrações e os estudos somente para os dedicados e iniciados.
Ocorreu que chegaram até nós muitas pessoas novas, pessoas que desejam se dedicar no caminho da Arte.
Mas como atender as necessidades dessas pessoas se o Coven está fechado?
Então surgiu o "Circulo de Neófitos", para suprir as pessoas.
E quão grata foi nossa surpresa, minha e de Gawen...
Ah, o frescor da juventude... a coragem... a disposição... o encanto... o  COMPROMISSO.

Lidar com os neófitos tem sido uma experiência revigorante, nos trouxe de volta aquela velha sensação de estar nos trilhos certos.
Ver esses meninos se esforçando nos treinamentos, em estar participando dos nossos encontros me encheu de alegria.

A função do Circulo de Neófitos é justamente apresentar o modo como o Coven (ou Tradição) trabalha magicamente, quem são os seus membros e Sacerdotes, e prepara a pessoa para o processo de Dedicação.
Impossível dedicar alguém sem o mínimo de interação entre ele e o Circulo.
Depois de 3 Rodas como Coven entendemos que não dá pra receber alguém pra se dedicar dessa forma, chegou, gostou, dedicou. Não dá certo. Não conosco!

O Circulo de Neófitos continuará sempre recebendo aqueles que se interessarem em trilhar o caminho da Arte conosco.

Gostaria de aproveitar este post para dizer o quanto esse mês de agosto tem sido abençoado pra nós.
Reafirmando laços, renovando nosso amor e nossa confiança uns nos outros.
Gratidão aos iniciados e dedicados pelo apoio.

Gratidão aos neófitos Kalanne, Rodrigo, Léo, Matheus, Wesley, Allisson.
Vocês são o sopro da Primavera, os brotos, os botões que florescem, nossa renovação, continuidade do nosso legado... E com alegria que damos as boas vindas neste Circulo como Dedicados em breve.

E Gawen, gratidão por ser um junto à mim... já não sei quando as palavras são minhas ou suas... onde eu termino e você começa... gratidão por caminhar comigo nessa senda.

Nesta foto faltam Léo e Matheus - Almoço de Confraternização em julho.

Amor à todos....
Bênçãos Dela

)O( Sianna Aset )O(

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O EU DIVINO – A INFLUÊNCIA DOS DEUSES EM SEU DIA-A-DIA


12° ESP- Santos organizado pelo Coven Amantes de Ísis em um belo anoitecer no Emissário Submarino.
Há maneiras distintas de se viver o sacerdócio cada indivíduo encontra sua maneira especial em se conectar com o Divino. Porém com base nas distintas formas de se viver um sacerdócio pode-se dividir basicamente em duas formas simples:
  •       O sacerdote devoto – Aquele que serve aos deuses, que faz oferendas a eles, que saúda a Terra a Natureza e de alguma forma está ligado a movimentos ambientais, e se devota a uma ou mais divindade específica, fazendo oferendas, criando hinos e se conectando através de meios externos com a divindade cultuada para que ela se manifeste exteriormente ou interiormente. 
  •     O sacerdote divino – Aquele que é mais do que um servo dos deuses ele se torna a manifestação da divindade com a qual se conecta. Não apenas faz oferendas aos deuses mas também incorpora as características da divindade em sua vida. O sacerdote divino alimenta os deuses e se alimenta deles. Não enxerga a natureza como algo sagrado superior a ele mas sim como o sagrado que faz parte de si, se sente parte integrante da Mãe Terra. O que sucede com a terra se sucederá com o sacerdote divino que não venera os ciclos da natureza mas os incorpora em sua vida.
O cristianismo durante muitos séculos formou “devotos” de um único Deus. Que seria a imagem e semelhança do homem, porém não incorpora suas dores, falhas, medos e sentimentos. Pois é um Deus Supremo que não vê com bons olhos as falhas e sombras humanas. Dessa forma não se é possível viver um sacerdócio divino, pois a ligação com o divino se restringe apenas a servidão e não a divinização humana.

Os deuses pagãos por se manifestarem em diversas faces permite aos seus sacerdotes uma aproximação arquetípica de modo em que o servo se identifica de alguma forma com a divindade cultuada. O cristianismo em sua origem era apenas visto como uma seita hebraica onde escravos e humildes e sofredores enxergavam em seu deus sacrificado, toda a dor que sentiam em suas vidas e se enchiam de esperanças e fé na recompensa oferecida por esse deus após a sua morte, a tão aclamada “Salvação”. Isso demonstra a necessidade humana de algo divino próximo de sua realidade.

Os povo egípcio vivia isolado das outras civilizações por conta do difícil acesso as terras férteis do Vale do Nilo que eram cercadas de desertos áridos com isso os egípcios eram formados por um povo pacífico e espiritualizado, não há registro de divindades primordiais que manifestam o papel arquetípico de guerreiro. Até mesmo Nit, uma das divindades mais antigas do Egito, só foi vista como guerreira após as invasões dos hicsos seu papel primordial é de Mãe, Caçadora e Guardiã. Porém com as diversas invasões sofridas pelo povo egípcio foi necessário que uma divindade Guerreira surgisse trazendo Ordem e unificando novamente as Duas Terras. A morte de Osíris representa a morte do deus pacífico, Senhor da Bondade e da Generosidade, a morte do velho e bom rei, e o nascimento de Hórus simboliza o poder do Novo Rei, um rei guerreiro que se vinga e destrói o inimigo. Através dessa divindade e outras divindades que foram relacionadas à guerra como Sekhmet, Sobek entre outros. Podemos observar que para que os egípcios pudessem se defender e retomar a Ordem de seu país foi necessário que surgisse divindades com atributos bélicos, dando assim força para que pudessem vencer seus inimigos e invasores.

Com tudo isso, podemos observar que o ser humano utiliza do contato divino como uma forma de ligação para alcançar o que deseja e para isso deve haver a identificação com a divindade. Esse é o primeiro passo para a formação de um sacerdócio. A partir do momento em que há essa identificação com a divindade se forma o sacerdócio devocional, onde há a veneração do aspecto que se deseja manifestar. Simplificando, se desejo conquistar em minha vida algo relacionado a beleza vou buscar divindades belas, em que seus mitos manifestam aquilo que desejo que se manifeste em minha vida. Não tem como me conectar com uma divindade como Caillech e pedir juventude, ou me conectar com Ares e pedir paz.

O primeiro estágio do sacerdócio devocional é o encontro com a divindade de forma que ela se comunique como um símbolo do que idealiza e almeja ser. O segundo estágio é a busca por essa divindade, através de imagens, símbolos que a representam, cores relacionadas, incenso, ou seja, a busca por correspondências, elementos que o ligam a divindade.

O terceiro estágio é o manifestar da divindade em sua vida de forma que ela age sobre você. Começa a surgir uma “relação” uma ligação mais direta e ampla entre o sacerdote e a divindade. Como por exemplo, uma mulher que deseja se tornar sacerdotisa de Afrodite, ela se encanta pelo clima de amor, beleza e prazer que cerca essa Deusa, e almeja possuir isso em sua vida e através de um culto devocional acaba buscando referências e elementos que a ligam a essa divindade, quando esse elo se firma Afrodite surge na vida dessa pessoa atraindo parceiros sexuais, beleza, o gosto pelo conforto e a vaidade. Se não direcionada essa energia corretamente Afrodite também pode atrair a infidelidade, ciúmes, e até mesmo dívidas. 

Não há como imaginar uma sacerdotisa de Afrodite que não seja uma mulher vaidosa que utiliza joias e pérolas, que tenha um perfume marcante, que sempre se envolve em relacionamentos intensos e ao mesmo tempo fugazes. Ou seja, a divindade nesse terceiro estágio manifesta suas características exteriormente e de uma forma mais sutil interiormente.

O sacerdócio divino se manifesta quando a divindade deixa de se manifestar externamente e passa a se manifestar também internamente. O sacerdote divino aprendeu os ciclos da natureza e os venera e os incorpora em seu ciclo interior. Nascendo, crescendo, frutificando, morrendo e renascendo assim como tudo que faz parte da Natureza. O sacerdote divino não vê a Natureza e a Divindade como algo a parte de seu Ser, pois se torna parte integrante do cosmos, se liga ao seu Eu Divino.

Quando essa conexão se dá de forma verdadeira, os símbolos e correspondências deixam de ter um papel fundamental e passam a um patamar secundário, pois quando nesse estágio o sacerdote vê o sagrado em tudo o que o cerca.

Para exemplificar utilizarei meu culto pessoal a Osíris como exemplo. Inicialmente foi um sacerdócio devocional, houve minha identificação com a divindade e minha busca por correspondências e símbolos que me conectasse a esse Deus. Até que se manifestasse em minha vida, me fazendo tomar decisões e assumir o papel de líder e de responsável em diversas circunstâncias. Trazendo prosperidade, abundância e estabilidade. Ao atingir um sacerdócio divino, incorporei as características da divindade em minha personalidade, em meu dia-a-dia. Coisas simples me remetem e conectam a Osíris, uma simples planta que brota, a terra escura e molhada após uma tempestade, um pão de grãos, cerveja preta. Todos esses elementos compõe essa divindade, esses fatores externos se ligam ao meu Eu Interior formando não mais uma imagem externa, mas sim a interiorização da divindade se manifestando nos meus gostos pessoais, escolhas e atitudes. Dizendo de forma direta: Eu me torno Osíris, o vejo manifesto dentro e fora de mim. Ao me alimentar de grãos, cereais, pães, me alimento de Osíris, ao beber cerveja preta ou água pura bebo Osíris, ao vestir uma blusa verde me visto de Osíris.
No sacerdócio divino há a incorporação total dos elementos e arquétipos da divindade. Para se alcançar esse estágio sacerdotal é necessário passar pelo sacerdócio devocional de modo que se acesse o Eu Divino, passando a enxergar o sagrado de forma mais próxima.

Para isso é essencial o resgate tanto do Sagrado Feminino como do Sagrado Masculino, pois dessa forma é possível buscar divindades ligadas aos arquétipos e necessidade de cada gênero, curando feridas e auxiliando em um equilíbrio e conexão com o sagrado que há dentro de você. Vendo o Deus que há dentro de si e o Deus que há dentro dos outros como na saudação budista Namastê.

A mulher que associa seus ciclos aos ciclos da Deusa aprende a ser Donzela, Mãe e Anciã de forma que se torna um canal, uma representante carnal do Princípio Divino Feminino, da mesma forma o homem que honra os seus ciclos. Sendo o Filho, o Jovem Amante, o Rei Sacrificado e o Velho Sábio. Aprendendo junto aos ciclos do Sol a nascer, morrer e renascer.

Quando incorporamos os ciclos da natureza não passamos simplesmente por suas modificações e sim vivemos suas mudanças. Não passamos por verões e sim vivemos os verões cheios de luz e força, não passamos pelo inverno pelo frio, mas vivemos o inverno, a morte, o frio, o medo, a interiorização e o renascimento.

Um sacerdócio devocional não proporciona em plenitude a manifestação total do divino, podemos utilizar esse tipo de sacerdócio quando desejamos apenas manifestar a presença externa de uma divindade de forma em que através da devoção buscamos seu auxílio, já o sacerdócio divino nos proporciona uma interiorização dos valores e aspectos que a divindade representa formando um elo permanente e profundo com o divino de forma que manifestamos seus aspectos e nos tornamos divinos.

Não há sacerdócio certo e sacerdócio errado, assim como não há apenas um caminho, cada pessoa irá aprender a viver seu sacerdócio a sua maneira, seja através da devoção divina ou através da interiorização do divino em sua vida. Não importa a maneira que o “religare” se dá mas sim a força, a fé e o amor que se emprega em sua caminhada sacerdotal.

Por: Gawen Ausar (Natan Brith)

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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Reflexões de Yule - O verdadeiro significado de ser Filho da Terra

Não há neve nem gelo, mas sim muita neblina, chuva e frio. Esse é o nosso Inverno, a forma como a Mãe Terra se manifesta ao nosso redor.

Você já parou para imaginar como seria se a Terra simplesmente parasse de girar? Se o Sol não nascesse mais nas manhãs? Se a Lua não nos mostrasse suas diversas faces durante as noites? Se a semente não brotasse mais da Terra?
O ser humano em sua “racionalidade” buscou compreender tudo ao seu redor cientificamente com uma intenção puramente cética com o objetivo de dominar a Natureza de forma que não enxerga mais o milagre que se é viver.
Que o Sol é essencial para nossa existência todos sabem mas será que você sabe a hora que ele nasceu hoje? Você saberia me dizer qual fase a Lua se encontra? Ou quanto tempo leva para uma simples maçã que você compra no mercado para amadurecer?
A humanidade não enxerga mais a Natureza como algo Sagrado, como a sua Mãe. A Terra é nossa Mãe não só por um simples simbolismo pagão, mas sim porque é dela que tiramos nosso sustento, é dela que viemos e é para ela que retornamos ao morrer.  Assim como uma Mãe ela alimenta seus filhos com seus frutos e os protege e abriga. Porém um simples entardecer passa despercebido por milhares de pessoas. Uma fruta é apenas mais um produto que se compra em um mercado. E as árvores se tornaram simples decoração.
Como pagãos que vivem em conexão com a Grande Mãe, voltamos nossos olhos para a Ela. Conseguimos notar a singela transição das estações, conseguimos sentir as mudanças energéticas causadas pela variação das fases da Lua, o cair das folhas e o florescer das árvores.
E nesse Yule gostaria que refletissem sobre a importância de honrar a Terra, nossa Mãe.
Por serem coisas tão rotineiras e sutis muitas vezes não paramos para analisar e muitas pessoas podem titular isso como coisas de “esquisotérico” ou de hippies. Mas se pararmos para enxergar o quão belo e magnífico é um simples amanhecer e como a sua existência depende dessa simples rotação planetária irá ver o dia com outros olhos.
O paganismo, e principalmente a wicca, tem se tornado cada dia mais comercial. As pessoas se preocupam mais com seus altares, cores de velas, e no fulaninho que deseja encantar do que com a verdadeira essência dessa religião que é a Mãe. Antes de enfeitar seu altar com as cores da estação, vá dar uma volta, veja como a Natureza se mostra pra você, que árvores existem na sua região, ao invés de se preocupar se a varinha que você comprou é de cedro puro ou de carvalho. Há vida e energia em toda a Natureza. E o poder está em todas as criações da Grande Mãe. Não preciso comprar a maior escultura que simbolize a Deusa para por em meu altar, pois posso pegar uma simples concha e a representá-la da mesma forma. Claro que há artistas incríveis que através de suas artes nos encantam os olhos, porém não devemos nos prender apenas a isso e literalmente nos fechar em cômodos apertados diante de um altar para celebrar um Sabat. Uma simples caminhada, sentindo o vento frio do inverno, ou vendo de uma janela o cair da chuva já conseguimos nos conectar com a Grande Mãe.
O Yule é um dos meus Sabats favoritos justamente por nos propor o recolhimento. Nossas celebrações que geralmente são realizadas na praia, por conta da chuva e do frio, são realizadas geralmente em locais fechados. Isso é se adaptar aos ciclos da Natureza, pois o inverno é o período de recolhimento. E proponho que se recolham e se analisem: Será que tenho cumprido meu papel como Filho da Terra? Será que dou a devida atenção aos ciclos da Grande Mãe? Consigo sentir o nascer, o crescer, o morrer e o renascer da Natureza? O que tenho feito para contribuir com a saúde de nossa Mãe Terra?
Que a Criança da promessa traga Luz e Bênçãos a todos! Nos tornando bons filhos da Grande Mãe, para que sejamos sementes fertilizadoras, fazendo brotar no mundo uma nova consciência. E não servindo apenas de adubo para esse consumismo e capitalismo que tem ferido nossa Terra.


Por: Gawen Ausar 

terça-feira, 3 de abril de 2012

E mais uma Roda se passou...

Depois de um tempo sem atualizar o blog, estamos de volta... foram meses intensos, e a casa estava sendo colocada em ordem, a minha casa física sofreu uma mudança de endereço e o Coven uma grande mudança em sua estrutura base.

Parece pouco... mas essas 04 Rodas acumularam histórias, vivências, experiências que transformaram a vida de muita gente.

Quando começamos sem pretensão nenhuma de nos tornarmos um Circulo não podíamos sequer imaginar o que nos aguardava logo ali adiante... um universo inexplorado de possibilidades.

Houveram altos e baixos... e a cada desafio que enfrentamos nosso amor se fortaleceu, a cada sorriso compartilhado nossa amizade cresceu, muitos passaram, muitos outros chegaram... e passaram também... 

Continuo consciente que a Bruxaria é ciclíca, e a isso somo as palavras de Epona (Letícia Viotti) o Coven é um estado... e um estado algumas vezes transitório! 
Não acho que sejamos um Circulo que opera milagres, salvação ou redenção de nada, não praticamos o proseletismo e muito menos arrebanhamos pessoas pra estarem conosco... todos vieram, estiveram, cresceram, alguns se foram, outros não.

Acredito mais do que nunca que nem tudo dura eternamente, algumas coisas tem sim prazo de validade. Porém o amor, a amizade e o respeito não... essas coisas são eternas no coração daqueles que estiveram ligados por um laço maior do que a própria vida, nossa teia é algo que sempre nos manterá juntos, hoje e sempre.

Tivemos nossa fé testada, tivemos nossos propósitos colocados à prova, mas estamos resistindo. Digo estamos, porque esse ano de 2012 será um momento delicado pra humanidade como um todo, e nós temos visto bem de perto as consequências da falta de responsabilidade de alguns com os Deuses. 
Nossa própria religião sendo palco de escândalo e polêmica, todos julgando e sendo julgados. Uma nova inquisição sendo armada pra saber quem é ou não "Digno" pra exercer o Sacerdócio!

Então neste post eu compartilho minha opinião: Quem dá legitimidade ao Sacerdócio, Circulo não é sua linhagem, mas sim seu comprometimento, sua responsabilidade com os Deuses... Eles atestam nossa legitimidade. 

Afinal quem iniciou Gardner? Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? O que nisso muda nosso amor pelos Deuses? 

Confesso que sofri um ataque na minha percepção de Sacerdócio depois dos últimos acontecimentos, porém conversar com as pessoas que me conhecem, sabem da minha história e jornada, me fez perceber que nada pode me afastar do meu Oficio! 

Eu amo estar entre os Mundos, celebrando meus Deuses, ao lado da minha família mágica, sinto falta de celebrar com muita gente, sinto saudades de cada um que dediquei, iniciei e tive que deixar ir... Pois assim é a grande espiral, se movendo eternamente... 

A quem por ventura tenha magoado, decepcionado peço desculpas...
A cada iniciado que errou, saiba, eu errei contigo, você não errou sozinho, você está aprendendo à ser um Sacerdote e eu uma Sacerdotisa.

Odeio essa ideia de que um Sacerdote (Sacerdotisa) é um ser inacessível, detentor dos mistérios da vida, acima do bem e do mal... Estamos todos aqui aprendendo... é nisso que eu acredito... tenho humildade o suficiente pra dizer:

Me desculpem!

E também pra dizer: 

GRATIDÃO!

À todos que passaram por esse Circulo nesses 04 anos, que dividiram alegrias e tristezas, aos que confiaram... e aos que Confiam em nós... por todo amor, sabedoria compartilhada.

Aos que iniciei, TODOS, meu amor, sempre... vocês são um pedaço de mim também, nunca se esqueçam!

Aos que estão chegando... sejam bem-vindos, que vocês possam se sentir nos braços da Grande Mãe, assim como sempre me sinto quando estou com essas pessoas à quem hoje chamo de Família!

E Gawen... mais do que nunca sabemos até onde iremos juntos... Estamos irremediavelmente unidos pelas próximas vidas... E isso me dá forças!

Gratidão Grande Ísis que com suas Asas nos cobrem e nos protege dos males, Grande Ma'at por sua justiça, e nosso amado guardião por sempre nos rondar!

Sou uma mulher de muita sorte... conheci as melhores pessoas do mundo... convivi e aprendi com elas coisas maravilhosas nesses 04 anos.

De um coração agradecido que transborda de amor:

Sianna Aset

Ainda em tempo... O convite à todos que fazem parte dessa história... Venham celebrar conosco!