segunda-feira, 25 de junho de 2012

O EU DIVINO – A INFLUÊNCIA DOS DEUSES EM SEU DIA-A-DIA


12° ESP- Santos organizado pelo Coven Amantes de Ísis em um belo anoitecer no Emissário Submarino.
Há maneiras distintas de se viver o sacerdócio cada indivíduo encontra sua maneira especial em se conectar com o Divino. Porém com base nas distintas formas de se viver um sacerdócio pode-se dividir basicamente em duas formas simples:
  •       O sacerdote devoto – Aquele que serve aos deuses, que faz oferendas a eles, que saúda a Terra a Natureza e de alguma forma está ligado a movimentos ambientais, e se devota a uma ou mais divindade específica, fazendo oferendas, criando hinos e se conectando através de meios externos com a divindade cultuada para que ela se manifeste exteriormente ou interiormente. 
  •     O sacerdote divino – Aquele que é mais do que um servo dos deuses ele se torna a manifestação da divindade com a qual se conecta. Não apenas faz oferendas aos deuses mas também incorpora as características da divindade em sua vida. O sacerdote divino alimenta os deuses e se alimenta deles. Não enxerga a natureza como algo sagrado superior a ele mas sim como o sagrado que faz parte de si, se sente parte integrante da Mãe Terra. O que sucede com a terra se sucederá com o sacerdote divino que não venera os ciclos da natureza mas os incorpora em sua vida.
O cristianismo durante muitos séculos formou “devotos” de um único Deus. Que seria a imagem e semelhança do homem, porém não incorpora suas dores, falhas, medos e sentimentos. Pois é um Deus Supremo que não vê com bons olhos as falhas e sombras humanas. Dessa forma não se é possível viver um sacerdócio divino, pois a ligação com o divino se restringe apenas a servidão e não a divinização humana.

Os deuses pagãos por se manifestarem em diversas faces permite aos seus sacerdotes uma aproximação arquetípica de modo em que o servo se identifica de alguma forma com a divindade cultuada. O cristianismo em sua origem era apenas visto como uma seita hebraica onde escravos e humildes e sofredores enxergavam em seu deus sacrificado, toda a dor que sentiam em suas vidas e se enchiam de esperanças e fé na recompensa oferecida por esse deus após a sua morte, a tão aclamada “Salvação”. Isso demonstra a necessidade humana de algo divino próximo de sua realidade.

Os povo egípcio vivia isolado das outras civilizações por conta do difícil acesso as terras férteis do Vale do Nilo que eram cercadas de desertos áridos com isso os egípcios eram formados por um povo pacífico e espiritualizado, não há registro de divindades primordiais que manifestam o papel arquetípico de guerreiro. Até mesmo Nit, uma das divindades mais antigas do Egito, só foi vista como guerreira após as invasões dos hicsos seu papel primordial é de Mãe, Caçadora e Guardiã. Porém com as diversas invasões sofridas pelo povo egípcio foi necessário que uma divindade Guerreira surgisse trazendo Ordem e unificando novamente as Duas Terras. A morte de Osíris representa a morte do deus pacífico, Senhor da Bondade e da Generosidade, a morte do velho e bom rei, e o nascimento de Hórus simboliza o poder do Novo Rei, um rei guerreiro que se vinga e destrói o inimigo. Através dessa divindade e outras divindades que foram relacionadas à guerra como Sekhmet, Sobek entre outros. Podemos observar que para que os egípcios pudessem se defender e retomar a Ordem de seu país foi necessário que surgisse divindades com atributos bélicos, dando assim força para que pudessem vencer seus inimigos e invasores.

Com tudo isso, podemos observar que o ser humano utiliza do contato divino como uma forma de ligação para alcançar o que deseja e para isso deve haver a identificação com a divindade. Esse é o primeiro passo para a formação de um sacerdócio. A partir do momento em que há essa identificação com a divindade se forma o sacerdócio devocional, onde há a veneração do aspecto que se deseja manifestar. Simplificando, se desejo conquistar em minha vida algo relacionado a beleza vou buscar divindades belas, em que seus mitos manifestam aquilo que desejo que se manifeste em minha vida. Não tem como me conectar com uma divindade como Caillech e pedir juventude, ou me conectar com Ares e pedir paz.

O primeiro estágio do sacerdócio devocional é o encontro com a divindade de forma que ela se comunique como um símbolo do que idealiza e almeja ser. O segundo estágio é a busca por essa divindade, através de imagens, símbolos que a representam, cores relacionadas, incenso, ou seja, a busca por correspondências, elementos que o ligam a divindade.

O terceiro estágio é o manifestar da divindade em sua vida de forma que ela age sobre você. Começa a surgir uma “relação” uma ligação mais direta e ampla entre o sacerdote e a divindade. Como por exemplo, uma mulher que deseja se tornar sacerdotisa de Afrodite, ela se encanta pelo clima de amor, beleza e prazer que cerca essa Deusa, e almeja possuir isso em sua vida e através de um culto devocional acaba buscando referências e elementos que a ligam a essa divindade, quando esse elo se firma Afrodite surge na vida dessa pessoa atraindo parceiros sexuais, beleza, o gosto pelo conforto e a vaidade. Se não direcionada essa energia corretamente Afrodite também pode atrair a infidelidade, ciúmes, e até mesmo dívidas. 

Não há como imaginar uma sacerdotisa de Afrodite que não seja uma mulher vaidosa que utiliza joias e pérolas, que tenha um perfume marcante, que sempre se envolve em relacionamentos intensos e ao mesmo tempo fugazes. Ou seja, a divindade nesse terceiro estágio manifesta suas características exteriormente e de uma forma mais sutil interiormente.

O sacerdócio divino se manifesta quando a divindade deixa de se manifestar externamente e passa a se manifestar também internamente. O sacerdote divino aprendeu os ciclos da natureza e os venera e os incorpora em seu ciclo interior. Nascendo, crescendo, frutificando, morrendo e renascendo assim como tudo que faz parte da Natureza. O sacerdote divino não vê a Natureza e a Divindade como algo a parte de seu Ser, pois se torna parte integrante do cosmos, se liga ao seu Eu Divino.

Quando essa conexão se dá de forma verdadeira, os símbolos e correspondências deixam de ter um papel fundamental e passam a um patamar secundário, pois quando nesse estágio o sacerdote vê o sagrado em tudo o que o cerca.

Para exemplificar utilizarei meu culto pessoal a Osíris como exemplo. Inicialmente foi um sacerdócio devocional, houve minha identificação com a divindade e minha busca por correspondências e símbolos que me conectasse a esse Deus. Até que se manifestasse em minha vida, me fazendo tomar decisões e assumir o papel de líder e de responsável em diversas circunstâncias. Trazendo prosperidade, abundância e estabilidade. Ao atingir um sacerdócio divino, incorporei as características da divindade em minha personalidade, em meu dia-a-dia. Coisas simples me remetem e conectam a Osíris, uma simples planta que brota, a terra escura e molhada após uma tempestade, um pão de grãos, cerveja preta. Todos esses elementos compõe essa divindade, esses fatores externos se ligam ao meu Eu Interior formando não mais uma imagem externa, mas sim a interiorização da divindade se manifestando nos meus gostos pessoais, escolhas e atitudes. Dizendo de forma direta: Eu me torno Osíris, o vejo manifesto dentro e fora de mim. Ao me alimentar de grãos, cereais, pães, me alimento de Osíris, ao beber cerveja preta ou água pura bebo Osíris, ao vestir uma blusa verde me visto de Osíris.
No sacerdócio divino há a incorporação total dos elementos e arquétipos da divindade. Para se alcançar esse estágio sacerdotal é necessário passar pelo sacerdócio devocional de modo que se acesse o Eu Divino, passando a enxergar o sagrado de forma mais próxima.

Para isso é essencial o resgate tanto do Sagrado Feminino como do Sagrado Masculino, pois dessa forma é possível buscar divindades ligadas aos arquétipos e necessidade de cada gênero, curando feridas e auxiliando em um equilíbrio e conexão com o sagrado que há dentro de você. Vendo o Deus que há dentro de si e o Deus que há dentro dos outros como na saudação budista Namastê.

A mulher que associa seus ciclos aos ciclos da Deusa aprende a ser Donzela, Mãe e Anciã de forma que se torna um canal, uma representante carnal do Princípio Divino Feminino, da mesma forma o homem que honra os seus ciclos. Sendo o Filho, o Jovem Amante, o Rei Sacrificado e o Velho Sábio. Aprendendo junto aos ciclos do Sol a nascer, morrer e renascer.

Quando incorporamos os ciclos da natureza não passamos simplesmente por suas modificações e sim vivemos suas mudanças. Não passamos por verões e sim vivemos os verões cheios de luz e força, não passamos pelo inverno pelo frio, mas vivemos o inverno, a morte, o frio, o medo, a interiorização e o renascimento.

Um sacerdócio devocional não proporciona em plenitude a manifestação total do divino, podemos utilizar esse tipo de sacerdócio quando desejamos apenas manifestar a presença externa de uma divindade de forma em que através da devoção buscamos seu auxílio, já o sacerdócio divino nos proporciona uma interiorização dos valores e aspectos que a divindade representa formando um elo permanente e profundo com o divino de forma que manifestamos seus aspectos e nos tornamos divinos.

Não há sacerdócio certo e sacerdócio errado, assim como não há apenas um caminho, cada pessoa irá aprender a viver seu sacerdócio a sua maneira, seja através da devoção divina ou através da interiorização do divino em sua vida. Não importa a maneira que o “religare” se dá mas sim a força, a fé e o amor que se emprega em sua caminhada sacerdotal.

Por: Gawen Ausar (Natan Brith)

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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Reflexões de Yule - O verdadeiro significado de ser Filho da Terra

Não há neve nem gelo, mas sim muita neblina, chuva e frio. Esse é o nosso Inverno, a forma como a Mãe Terra se manifesta ao nosso redor.

Você já parou para imaginar como seria se a Terra simplesmente parasse de girar? Se o Sol não nascesse mais nas manhãs? Se a Lua não nos mostrasse suas diversas faces durante as noites? Se a semente não brotasse mais da Terra?
O ser humano em sua “racionalidade” buscou compreender tudo ao seu redor cientificamente com uma intenção puramente cética com o objetivo de dominar a Natureza de forma que não enxerga mais o milagre que se é viver.
Que o Sol é essencial para nossa existência todos sabem mas será que você sabe a hora que ele nasceu hoje? Você saberia me dizer qual fase a Lua se encontra? Ou quanto tempo leva para uma simples maçã que você compra no mercado para amadurecer?
A humanidade não enxerga mais a Natureza como algo Sagrado, como a sua Mãe. A Terra é nossa Mãe não só por um simples simbolismo pagão, mas sim porque é dela que tiramos nosso sustento, é dela que viemos e é para ela que retornamos ao morrer.  Assim como uma Mãe ela alimenta seus filhos com seus frutos e os protege e abriga. Porém um simples entardecer passa despercebido por milhares de pessoas. Uma fruta é apenas mais um produto que se compra em um mercado. E as árvores se tornaram simples decoração.
Como pagãos que vivem em conexão com a Grande Mãe, voltamos nossos olhos para a Ela. Conseguimos notar a singela transição das estações, conseguimos sentir as mudanças energéticas causadas pela variação das fases da Lua, o cair das folhas e o florescer das árvores.
E nesse Yule gostaria que refletissem sobre a importância de honrar a Terra, nossa Mãe.
Por serem coisas tão rotineiras e sutis muitas vezes não paramos para analisar e muitas pessoas podem titular isso como coisas de “esquisotérico” ou de hippies. Mas se pararmos para enxergar o quão belo e magnífico é um simples amanhecer e como a sua existência depende dessa simples rotação planetária irá ver o dia com outros olhos.
O paganismo, e principalmente a wicca, tem se tornado cada dia mais comercial. As pessoas se preocupam mais com seus altares, cores de velas, e no fulaninho que deseja encantar do que com a verdadeira essência dessa religião que é a Mãe. Antes de enfeitar seu altar com as cores da estação, vá dar uma volta, veja como a Natureza se mostra pra você, que árvores existem na sua região, ao invés de se preocupar se a varinha que você comprou é de cedro puro ou de carvalho. Há vida e energia em toda a Natureza. E o poder está em todas as criações da Grande Mãe. Não preciso comprar a maior escultura que simbolize a Deusa para por em meu altar, pois posso pegar uma simples concha e a representá-la da mesma forma. Claro que há artistas incríveis que através de suas artes nos encantam os olhos, porém não devemos nos prender apenas a isso e literalmente nos fechar em cômodos apertados diante de um altar para celebrar um Sabat. Uma simples caminhada, sentindo o vento frio do inverno, ou vendo de uma janela o cair da chuva já conseguimos nos conectar com a Grande Mãe.
O Yule é um dos meus Sabats favoritos justamente por nos propor o recolhimento. Nossas celebrações que geralmente são realizadas na praia, por conta da chuva e do frio, são realizadas geralmente em locais fechados. Isso é se adaptar aos ciclos da Natureza, pois o inverno é o período de recolhimento. E proponho que se recolham e se analisem: Será que tenho cumprido meu papel como Filho da Terra? Será que dou a devida atenção aos ciclos da Grande Mãe? Consigo sentir o nascer, o crescer, o morrer e o renascer da Natureza? O que tenho feito para contribuir com a saúde de nossa Mãe Terra?
Que a Criança da promessa traga Luz e Bênçãos a todos! Nos tornando bons filhos da Grande Mãe, para que sejamos sementes fertilizadoras, fazendo brotar no mundo uma nova consciência. E não servindo apenas de adubo para esse consumismo e capitalismo que tem ferido nossa Terra.


Por: Gawen Ausar