12° ESP- Santos organizado pelo Coven Amantes de Ísis em um belo anoitecer no Emissário Submarino. |
Há maneiras distintas de se viver o sacerdócio
cada indivíduo encontra sua maneira especial em se conectar com o Divino. Porém
com base nas distintas formas de se viver um sacerdócio pode-se dividir
basicamente em duas formas simples:
- O sacerdote devoto – Aquele que serve aos deuses, que faz oferendas a eles, que saúda a Terra a Natureza e de alguma forma está ligado a movimentos ambientais, e se devota a uma ou mais divindade específica, fazendo oferendas, criando hinos e se conectando através de meios externos com a divindade cultuada para que ela se manifeste exteriormente ou interiormente.
- O sacerdote divino – Aquele que é mais do que um servo dos deuses ele se torna a manifestação da divindade com a qual se conecta. Não apenas faz oferendas aos deuses mas também incorpora as características da divindade em sua vida. O sacerdote divino alimenta os deuses e se alimenta deles. Não enxerga a natureza como algo sagrado superior a ele mas sim como o sagrado que faz parte de si, se sente parte integrante da Mãe Terra. O que sucede com a terra se sucederá com o sacerdote divino que não venera os ciclos da natureza mas os incorpora em sua vida.
O cristianismo durante muitos séculos formou
“devotos” de um único Deus. Que seria a imagem e semelhança do homem, porém não
incorpora suas dores, falhas, medos e sentimentos. Pois é um Deus Supremo que
não vê com bons olhos as falhas e sombras humanas. Dessa forma não se é
possível viver um sacerdócio divino, pois a ligação com o divino se restringe
apenas a servidão e não a divinização humana.
Os deuses pagãos por se manifestarem em diversas
faces permite aos seus sacerdotes uma aproximação arquetípica de modo em que o
servo se identifica de alguma forma com a divindade cultuada. O cristianismo em
sua origem era apenas visto como uma seita hebraica onde escravos e humildes e
sofredores enxergavam em seu deus sacrificado, toda a dor que sentiam em suas
vidas e se enchiam de esperanças e fé na recompensa oferecida por esse deus
após a sua morte, a tão aclamada “Salvação”. Isso demonstra a necessidade
humana de algo divino próximo de sua realidade.
Os povo egípcio vivia isolado das outras
civilizações por conta do difícil acesso as terras férteis do Vale do Nilo que
eram cercadas de desertos áridos com isso os egípcios eram formados por um povo
pacífico e espiritualizado, não há registro de divindades primordiais que
manifestam o papel arquetípico de guerreiro. Até mesmo Nit, uma das divindades
mais antigas do Egito, só foi vista como guerreira após as invasões dos hicsos
seu papel primordial é de Mãe, Caçadora e Guardiã. Porém com as diversas
invasões sofridas pelo povo egípcio foi necessário que uma divindade Guerreira
surgisse trazendo Ordem e unificando novamente as Duas Terras. A morte de
Osíris representa a morte do deus pacífico, Senhor da Bondade e da
Generosidade, a morte do velho e bom rei, e o nascimento de Hórus simboliza o
poder do Novo Rei, um rei guerreiro que se vinga e destrói o inimigo. Através
dessa divindade e outras divindades que foram relacionadas à guerra como
Sekhmet, Sobek entre outros. Podemos observar que para que os egípcios pudessem
se defender e retomar a Ordem de seu país foi necessário que surgisse
divindades com atributos bélicos, dando assim força para que pudessem vencer
seus inimigos e invasores.
Com tudo isso, podemos observar que o ser humano
utiliza do contato divino como uma forma de ligação para alcançar o que deseja
e para isso deve haver a identificação com a divindade. Esse é o primeiro passo
para a formação de um sacerdócio. A partir do momento em que há essa
identificação com a divindade se forma o sacerdócio devocional, onde há a
veneração do aspecto que se deseja manifestar. Simplificando, se desejo
conquistar em minha vida algo relacionado a beleza vou buscar divindades belas,
em que seus mitos manifestam aquilo que desejo que se manifeste em minha vida.
Não tem como me conectar com uma divindade como Caillech e pedir juventude, ou
me conectar com Ares e pedir paz.
O primeiro estágio do sacerdócio devocional é o
encontro com a divindade de forma que ela se comunique como um símbolo do que
idealiza e almeja ser. O segundo estágio é a busca por essa divindade, através
de imagens, símbolos que a representam, cores relacionadas, incenso, ou seja, a
busca por correspondências, elementos que o ligam a divindade.
O terceiro estágio é o manifestar da divindade em
sua vida de forma que ela age sobre você. Começa a surgir uma “relação” uma
ligação mais direta e ampla entre o sacerdote e a divindade. Como por exemplo,
uma mulher que deseja se tornar sacerdotisa de Afrodite, ela se encanta pelo
clima de amor, beleza e prazer que cerca essa Deusa, e almeja possuir isso em
sua vida e através de um culto devocional acaba buscando referências e
elementos que a ligam a essa divindade, quando esse elo se firma Afrodite surge
na vida dessa pessoa atraindo parceiros sexuais, beleza, o gosto pelo conforto
e a vaidade. Se não direcionada essa energia corretamente Afrodite também pode
atrair a infidelidade, ciúmes, e até mesmo dívidas.
Não há como imaginar uma sacerdotisa de Afrodite que não seja uma mulher vaidosa que utiliza joias e pérolas, que tenha um perfume marcante, que sempre se envolve em relacionamentos intensos e ao mesmo tempo fugazes. Ou seja, a divindade nesse terceiro estágio manifesta suas características exteriormente e de uma forma mais sutil interiormente.
O sacerdócio divino se manifesta quando a
divindade deixa de se manifestar externamente e passa a se manifestar também
internamente. O sacerdote divino aprendeu os ciclos da natureza e os venera e
os incorpora em seu ciclo interior. Nascendo, crescendo, frutificando, morrendo
e renascendo assim como tudo que faz parte da Natureza. O sacerdote divino não
vê a Natureza e a Divindade como algo a parte de seu Ser, pois se torna parte integrante
do cosmos, se liga ao seu Eu Divino.
Quando essa conexão se dá de forma verdadeira, os
símbolos e correspondências deixam de ter um papel fundamental e passam a um
patamar secundário, pois quando nesse estágio o sacerdote vê o sagrado em tudo
o que o cerca.
Para exemplificar utilizarei meu culto pessoal a
Osíris como exemplo. Inicialmente foi um sacerdócio devocional, houve minha
identificação com a divindade e minha busca por correspondências e símbolos que
me conectasse a esse Deus. Até que se manifestasse em minha vida, me fazendo
tomar decisões e assumir o papel de líder e de responsável em diversas
circunstâncias. Trazendo prosperidade, abundância e estabilidade. Ao atingir um
sacerdócio divino, incorporei as características da divindade em minha
personalidade, em meu dia-a-dia. Coisas simples me remetem e conectam a Osíris,
uma simples planta que brota, a terra escura e molhada após uma tempestade, um
pão de grãos, cerveja preta. Todos esses elementos compõe essa divindade, esses
fatores externos se ligam ao meu Eu Interior formando não mais uma imagem
externa, mas sim a interiorização da divindade se manifestando nos meus gostos
pessoais, escolhas e atitudes. Dizendo de forma direta: Eu me torno Osíris, o
vejo manifesto dentro e fora de mim. Ao me alimentar de grãos, cereais, pães,
me alimento de Osíris, ao beber cerveja preta ou água pura bebo Osíris, ao
vestir uma blusa verde me visto de Osíris.
No sacerdócio divino há a incorporação total dos
elementos e arquétipos da divindade. Para se alcançar esse estágio sacerdotal é
necessário passar pelo sacerdócio devocional de modo que se acesse o Eu Divino,
passando a enxergar o sagrado de forma mais próxima.
Para isso é essencial o resgate tanto do Sagrado
Feminino como do Sagrado Masculino, pois dessa forma é possível buscar
divindades ligadas aos arquétipos e necessidade de cada gênero, curando feridas
e auxiliando em um equilíbrio e conexão com o sagrado que há dentro de você.
Vendo o Deus que há dentro de si e o Deus que há dentro dos outros como na
saudação budista Namastê.
A mulher que associa seus ciclos aos ciclos da
Deusa aprende a ser Donzela, Mãe e Anciã de forma que se torna um canal, uma
representante carnal do Princípio Divino Feminino, da mesma forma o homem que
honra os seus ciclos. Sendo o Filho, o Jovem Amante, o Rei Sacrificado e o
Velho Sábio. Aprendendo junto aos ciclos do Sol a nascer, morrer e renascer.
Quando incorporamos os ciclos da natureza não
passamos simplesmente por suas modificações e sim vivemos suas mudanças. Não passamos
por verões e sim vivemos os verões cheios de luz e força, não passamos pelo
inverno pelo frio, mas vivemos o inverno, a morte, o frio, o medo, a
interiorização e o renascimento.
Um sacerdócio devocional não proporciona em
plenitude a manifestação total do divino, podemos utilizar esse tipo de
sacerdócio quando desejamos apenas manifestar a presença externa de uma
divindade de forma em que através da devoção buscamos seu auxílio, já o
sacerdócio divino nos proporciona uma interiorização dos valores e aspectos que
a divindade representa formando um elo permanente e profundo com o divino de
forma que manifestamos seus aspectos e nos tornamos divinos.
Não há sacerdócio certo e sacerdócio errado, assim
como não há apenas um caminho, cada pessoa irá aprender a viver seu sacerdócio
a sua maneira, seja através da devoção divina ou através da interiorização do
divino em sua vida. Não importa a maneira que o “religare” se dá mas sim a
força, a fé e o amor que se emprega em sua caminhada sacerdotal.
Por: Gawen Ausar (Natan Brith)
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