sábado, 3 de julho de 2010

A Postura Sacerdotal

Originalmente publicado em:
http://www.tribosdegaia.org/colunistadomes/index5.html



Durante todo o tempo em que fui treinada para tornar-me sacerdotisa o que eu mais ouvia é que o conhecimento, a habilidade e a postura são as três coisas mais importantes que um sacerdote pode possuir para merecer respeito e agir corretamente dentro de seu ofício. No inicio eu entendia perfeitamente a necessidade de se possuir conhecimento e habilidades, mas não compreendia muito bem porque a postura era tão importante. Claro que entendia a necessidade de um bom comportamento, mas os meus sacerdotes diziam que a postura era ainda mais necessária que o conhecimento e habilidade. Por muitos anos refleti sobre isso, analisei os fervorosos debates nas comunidades e fóruns, assisti palestras de diferentes personalidades pagãs e constatei que eles estavam certos; a postura é muito mais importante que possuir habilidades e conhecimentos diversos.
Escrevo a minha primeira coluna nesse portal com tal tema por ter visto ao longo dos anos que a grande maioria dos ditos sacerdotes pagãos não possuem sequer um terço do comprometimento, responsabilidade e maturidade necessários para que sejam respeitados e vistos como clérigos sólidos e não motivos de chacotas.
Quantas pessoas nós vemos nas comunidades pagãs internet afora ou em eventos que se definem sacerdotes e falam mal, menosprezam, agridem e desdenham dos sacerdotes de outras religiões, das outras religiões, dos novatos pedindo ajuda e até mesmo dos próprios sacerdotes de sua fé? Eu me pergunto como as religiões pagãs podem ser respeitadas e levadas a sério quando aqueles que se definem representantes dessa fé são motivos de chacota tanto dentro como fora de suas comunidades.
 O que eu tenho visto de mais gritante está ligado à religião Wicca, uma religião de crescimento constante em todo o mundo que possui uma imagem muito distorcida e confusa daquilo que ela realmente é. Vemos ditos sacerdotes wiccanianos que quando indagados sobre coisas simples da religião não sabem responder ou respondem errado, que não auxiliam os novatos, que são extremamente grosseiros e se consideram detentores de um status de superioridade inexistente.
Quando converso com cristãos, espíritas ou ateus vejo surpresa nos olhos deles quando digo que sou pagã, não por ser pagã em si, mas porque eles não acreditam que uma pessoa “tão normal” possa fazer parte de um contexto religioso tão “bobo e sem alicerces”. Pois é isso que as pessoas de outras religiões pensam de nós quando não são agressivos pensando que adoramos o diabo ou coisa do gênero.
O preconceito e a falta de mérito que recebemos por parte das outras culturas religiosas é culpa nossa. É culpa da nossa arrogância, das nossas guerrinhas internas por status e “títulos”, é culpa da nossa falta de profundidade no conhecimento adquirido, da nossa leviandade com as palavras e acima de tudo é culpa da nossa falta de postura como religiosos e sacerdotes.
Por sermos pagãos nossa visão de certo e errado difere bastante das religiões abraâmicas, não possuímos um rígido código de “moral e bons costumes”, não possuímos a crença em pecados e tampouco somos regulamentados por um papa ou dirigente similar. Mas ainda assim possuímos ética, responsabilidades e crenças que nos remetem a um comportamento social adequado. O Paganismo prega a liberdade, não a libertinagem. E é sob esta égide que baseio meus argumentos sobre esse tema.
A postura sacerdotal compreende não só o comportamento social como também é um reflexo direto do comprometimento, ética, sabedoria e maturidade que o sacerdote possui e atribui a sua comunidade religiosa. Para construir tal postura é preciso desenvolver um estudo e vivencia profundos sobre suas crenças pessoais em relação às crenças de sua religiosidade. É necessário conhecer diferentes temas e possuir um bom desenvolvimento em suas práticas, podar as atitudes e palavras ditas e o mais importante, é preciso respeitar tudo e todos para que assim possa também ser respeitado.
Ser gentil, prestativo e atencioso é uma obrigação de qualquer sacerdote, se não está com tempo ou paciência para responder uma dúvida ou debater algum assunto com alguém simplesmente peça licença, diga que responde outra hora e saia. Não é preciso ser arrogante ou grosseiro. Atitudes simples como essa mudam completamente a forma como somos vistos frente à sociedade. Evitar comportamentos chamativos demais, evitar o uso excessivo de palavrões e gírias, manter-se informado sobre os acontecimentos da comunidade e estar sempre estudando e desenvolvendo reflexões sobre suas práticas e crenças é essencial para o sacerdócio.
Essa postura não se constrói de uma hora para a outra e tampouco é adquirida em rituais ou com iniciações, essa postura é construída e podada com o tempo através de nossa dedicação em sermos, de fato, merecedores do cargo de representantes de um culto e receptáculos sagrados dos nossos deuses. Praticantes imaturos, sem fé e ignorantes quanto à história, liturgia e crenças de sua religião não são e nunca serão sacerdotes. Por isso, peço a todos os buscadores e praticantes que lêem esse artigo: desenvolvam uma correta postura sacerdotal, sejam realmente merecedores do sagrado ofício de representar os deuses e a fé pagã.

Um feliz e prospero caminhar a todos.
Abraços,
Dayne Anglius Dosken

*** Este artigo foi escrito por uma querida amiga,  Sacerdotisa da Tradição C.Lística Grega Atheniense, Rio de Janeiro. Pedi sua autorização para postar esse texto por achar de extrema importancia uma avaliação pessoal, reflexiva mesmo... vamos nos moldar, nos aperfeiçoar, é verdade que estamos passiveis de erro, mas isso não pode ser desculpa para uma conduta leviana jamais.
Peço aos iniciados uma atenção especial, afinal vocês são o exemplo daqueles que irão se dedicar no Imbolc, este é o tempo de renovar os votos da iniciação... resgatar a atitude apaixonada.
E aos futuros dedicados que este artigo possa encher seus corações de coragem e sabedoria para trilhar este caminho tão cheio de sinuosidades, um caminho escolhido de forma consciente por guerreiros, por escolhidos, por merecedores ... faça-se um desses!
Em confiança e perfeito amor caminhamos juntos...
)0(Sianna Mab)0(
 

4 comentários:

  1. Muito bom esse artigo adorei!!!!!
    É algo para se refletir!!!!

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  2. Procuro viver o paganismo no meu dia a dia, confesso nao é facil, meio a tanta cultura ocidental/capitalista.Compartilho da mesma preocupaçao de associarem a minha imagem paga a um cultuador de demonios e de nao ser digno de ser um bom representante pagao junto a outras religioes e ate mesmo na nossa comunidade.

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  3. sou um devoto da deusa Isis e teu atigo simpmlesmente é fabuloso espero um dia como devoto da Deusa Isis poder viver o mesmo q esta no artigo parabens

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Filosofe junto comigo...