quinta-feira, 22 de julho de 2010

Imbolc e as muitas faces de Brigid

Após o Solstício de Inverno, as noites começam a ficar menos longas e a luz do sol se faz um pouco mais presente durante os dias frios dessa época do ano. O Solstício é a noite mais longa, o meio do inverno; nele há uma promessa de que a luz um dia voltará. O Imbolc é o fim da estação fria; mais do que uma promessa, é a certeza visível de que o sol, ainda que tímido, está começando a retornar. O Imbolc é, portanto, uma antecipação da primavera; mas ainda é um tempo de precaução e cuidado, pois o inverno não terminou.
A lunação do Imbolc é chamada Lua do Gelo. Na Europa antiga, o fim do inverno representava uma fase particularmente difícil; as temperaturas continuavam baixíssimas; o alimento, não muito fresco, ainda tinha que ser racionado (ou poderia não durar até a primavera); e após quase três meses de longas noites, pouca luz solar, muita neve e confinamento em casa, as pessoas começavam a sentir os sinais de tédio, apatia, irritabilidade ou depressão. Muitos enfermos ou idosos não resistiam à dureza da Lua do Gelo, à vassoura da Deusa que vem varrendo o velho para que o novo possa cobrir a terra na primavera. Em toda a parte, eram celebradas deusas ceifeiras, anciãs ou relacionadas ao submundo: nos países eslavos, havia o dia de Baba Yaga; na Grécia, o retorno de Perséfone do submundo; e em terras célticas, a celebração de Brigid, patrona dos ferreiros e sua arte da forja: o bom ferro, a boa espada tem que passar pelo fogo. Essa é a face anciã (ceifeira!) de Brigid que muitos pagãos de hoje parecem não ver, ou não querer ver. Cuidado, crianças, com a Lua do Gelo.
Era nesse momento difícil (o fim do inverno) que a família ou clã se reunia próximo ao fogo, à lareira - o aconchego da chama de Brigid, deusa mãe e protetora do lar. Era nesse momento que o músico ou contador de histórias era tão necessário: para reanimar as pessoas com canções, poemas e charadas, e manter viva a memória da tribo com histórias e sagas de heróis e ancestrais. Ali estava Brigid, Senhora dos Bardos, na forma de inspiração, criatividade, encantamento, graça.
O Imbolc também era um bom momento para se verificar como estavam as sementes que haviam sido separadas no Samhain e estocadas para o plantio na primavera. Mexer nas sementes (ainda que para segurá-las um pouco na mão), sonhar e fazer planos para o verão e as colheitas era algo que sempre trazia um alento, uma esperança naqueles dias lúgubres. Brigid, deusa das sementes e dos grãos, só poderia mesmo ser filha do Dagda, o maravilhoso deus do Caldeirão do Renascimento, da fartura e da prosperidade, o Deus-Druida, o Todo-Pai. Brigid, deusa-menina, enche a casa de vida, sonhos, alegria.
É tempo de Imbolc no Hemisfério Sul. O Brasil enfrenta mais um de seus invernos recessivos, com muito desemprego, contenção de despesas e tensão social. Assim como os antigos celtas, ainda teremos noites frias e longas pela frente, e veremos estruturas velhas e debilitadas ruírem. Ainda há muita meditação e sacrifício para fazer. Precisamos ser fortes como a espada na forja. Mas a luz do sol já está retornando; em breve a primavera chegará, trazendo-nos bênçãos de renovação, saúde, trabalho e prosperidade.


Texto de Bandruir: http://escolagergovia.blogspot.com/2009/07/imbolc-as-muitas-faces-de-brigid.html

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